Diabetes e doença coronariana
Cerca de 10% das pessoas com mais de 20 anos têm diabetes mellitus (DM).
E, à medida que as pessoas envelhecem, elas têm mais chance de
desenvolver diabetes. De fato, praticamente 21% das pessoas com mais de
60 anos têm diabetes. A diabetes é tão séria que foi considerada um
risco equivalente ao da doença coronariana pelo NCEP (National
Cholesterol Education Program - Programa de Educação Nacional sobre o
Colesterol). Isso significa que o risco absoluto da diabetes é
semelhante ao da doença coronariana.
A diabetes é considerada um risco equivalente ao da doença coronariana porque:
- em alguns estudos, descobriu-se que as pessoas de mais idade com diabtes tipo 2 tinham um risco semelhante ao de adultos com doença coronariana existente;
- a probabilidade dos diabéticos tipo 2 morrerem de infarto é maior do que a das pessoas que não têm diabetes;
- as pessoas com diabetes tipo 2 que desenvolvem subseqüentemente a
doença coronariana apresentam índices de sobrevivência mais baixos do
que aquelas que desenvolvem a doença, mas que não têm diabetes.
A diabetes ocorre quando o corpo não produz ou não utiliza a insulina como deveria. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que
controla o nível de glicose, ou açúcar, no sangue. As células precisam
da glicose para obterem energia. Os médicos utilizam o FPG (Fasting
Plasma Glucose Test - Teste em jejum de glicose no plasma) ou o OGTT
(Oral Glucose Tolerance Test - Teste oral de tolerância à glicose) para
determinarem um diagnóstico da diabetes. Usando o FPG, um nível de
glicose no sangue, em jejum, entre 100 e 125 mg/dia indica pré-diabetes,
e um nível superior a 125 mg/dia indica diabetes.
A
cada nível de colesterol LDL, a pessoa com diabetes possui um alto
risco surpreendente em comparação com uma pessoa que não tem diabetes.
Os diabéticos tendem a ter partículas de colesterol LDL mais densas e
menores e/ou um nível elevado delas. Se o nível de triglicerídeos for
superior a 200 mg/dia, é provável que haja um nível elevado de
apolipoproteína B (apo B), que aumenta o risco de doença coronariana.
Uma das melhores maneiras de reduzir a probabilidade de desenvolvimento da diabetes, primeiramente, é praticar regularmente atividade física.
Isso é especialmente importante se você tiver um histórico familiar de
diabetes. Se você, hoje, não é uma pessoa ativa, fale com seu médico
para começar um programa de exercícios.
Se já tiver diabetes, o
exercício pode realmente diminuir a necessidade de insulina. Entretanto,
os níveis de glicose no sangue ainda devem ser monitorados, de modo que
as dosagens de insulina e os padrões de refeições possam ser ajustados
para evitar oscilações extremas na glicose causadas pelo exercício. Além
de melhorar a eficácia da insulina, o exercício também pode
proporcionar perda de peso,
que pode baixar o nível de triglicerídeos, colesterol LDL e pressão
arterial. Fazer uma dieta saudável - cortar alimentos e bebidas adoçadas
com açúcar e substituir os carboidratos refinados por produtos de grãos
integrais - contribui para esse benefício.
O tratamento da
diabetes requer tratamento simultâneo do nível anormal de lipídeos no
sangue. Para diminuir o colesterol, devem ser prescritas estatinas que
baixem os níveis em pelo menos 30%. O NCEP recomenda que as pessoas com
diabetes reduzam seu colesterol LDL para menos de 100 mg/dia, se não
tiverem doença coronariana, e para menos de 70 mg/dia, se apresentarem a
doença. Os medicamentos derivados do ácido fíbrico podem ajudar a
baixar o nível de triglicerídeos, e a metformina e as glitazonas
melhoram a sensibilidade à insulina. Finalmente, a pioglitazona pode
melhorar os níveis de colesterol HDL e triglicerídeos.
INTERVENÇÃO CORONARIANA PERCUTÂNEA NO DIABÉTICO (ICP)
Ao
analisarmos as questões relevantes em relação à ICP no paciente com DM,
uma abordagem pragmática e com potencial aplicação para o clínico deve
responder três perguntas:
1. Quais as diferenças entre os pacientes com e sem DM?
2. Quais as indicações de realização de ICP nos pacientes com DM?
3. Qual a ICP "ideal" no paciente com DM?
Características e evolução clínica de pacientes com DM submetidos à ICP
Os
pacientes com DM submetidos à ICP apresentam risco aumentado de
complicações e de reestenose, sendo que a presença de diabetes é um dos
principais preditores de ambas as situações. Por isso, a necessidade crescente de uso de stents farmacológicos que diminuem a reestenose principalmente neste grupo com diabetes.
Indicações de ICP em pacientes com DM
As
indicações de ICP no paciente com diabetes são baseadas no mesmo
racional aplicado para pacientes sem diabetes, que seria de proporcionar
diminuição do risco de eventos cardíacos maiores (ECVM) ou melhora da qualidade de vida quando
comparado aos tratamentos alternativos, seja clínico ou cirúrgico.
Em
pacientes assintomáticos ou com angina estável (dor precordial aos esforços), a ICP é uma indicação
razoável naqueles com 1 ou mais lesões em 1 ou 2 coronárias, quando
avaliada com alto índice de sucesso e baixo índice de complicações,
sendo que o vaso tratado deve suprir uma grande área de miocárdio e com
isquemia moderada à severa (classe II A, nível de evidência B). Esta
indicação reflete a preferência pela ICP em pacientes com doença
arterial coronariana de 1 ou 2 vasos, mas também demonstra que sua
realização não é obrigatória para todos os pacientes com estas
características.
Em
pacientes assintomáticos ou com angina estável, a efetividade da ICP em
pacientes com lesões de 2 ou 3 vasos que têm comprometimento da DA
proximal e que são potenciais candidatos para cirurgia e que têm
diabetes tratado ou disfunção ventricular esquerda não é bem
estabelecida (classe II B, nível de evidência B). Esta recomendação
reflete a preferência pela indicação cirúrgica na maioria dos pacientes
com doença arterial coronariana extensa, já que nos estudos randomizados
a cirurgia diminuiu significativamente a incidência de ECVM.
Intervenção coronariana percutânea ideal nos pacientes com DM
A introdução dos stents
farmacológicos foi um importante avanço da cardiologia intervencionista
na última década, sendo que o seu benefício clínico é particularmente
pronunciado nos pacientes com alto risco de reestenose, como pacientes
com DM e aqueles com lesões longas ou em vasos finos.
Assim, se considerarmos as evidências disponíveis até o momento, e
o fato de que a maioria dos pacientes com diabetes candidatos à
revascularização percutânea apresentam aterosclerose difusa, com lesões
longas e vasos de menor calibre, podemos concluir que os stents
farmacológicos estão indicados em uma grande parcela dos procedimentos
realizados nestes indivíduos. As prováveis exceções são aquelas com
risco muito baixo de reestenose (vasos calibrosos e lesões curtas) ou
risco alto de trombose tardia (indicações off-label ou impossibilidade do uso de tienopirídinicos a longo prazo).
Clopidogrel
e aspirina devem ser empregados em todos os pacientes submetidos à ICP,
iniciando a administração pelo menos seis horas antes da intervenção.
O
controle glicêmico e a escolha da droga anti-hiperglicêmica ideal antes
da ICP também têm sido ressaltados como fatores importantes na
diminuição do risco de eventos cardiovasculares em pacientes com DM.
Além
das intervenções citadas, outras drogas representativas do tratamento
clínico atual da doença aterosclerótica coronariana nos pacientes com DM
também desempenham um papel importante no período peri-ICP, como as
estatinas, beta-bloqueadores e inibidores da enzima conversora da
angiotensina. Um outro cuidado importante é o uso de hidratação
parenteral antes e após o procedimento, o que se associa com diminuição
do risco de insuficiência renal aguda, complicação mais freqüente no
paciente com DM.