A
intensidade das intervenções preventivas deve ser determinada pelo grau
de risco cardiovascular estimado para cada indivíduo e não pelo valor
de um determinado fator. Em termos práticos, costuma-se classificar os
indivíduos em três níveis de risco – baixo, moderado e alto – para o
desenvolvimento de eventos cardiovasculares maiores. Os eventos
tradicionalmente computados incluem morte por causa vascular, infarto do
miocárdio e acidente vascular cerebral.
A
Estratificação de Risco baseia-se na classificação inicial levando-se
em conta o exame clínico e avança para a indicação de exames
complementares quando o exame clínico apontar que o grau de risco sugere
risco moderado a alto (Figura 1).
A
classificação de risco pode ser repetida a cada 3 a 5 anos ou sempre
que eventos clínicos apontarem a necessidade de reavaliação.
ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO
Avaliação Clínica
Conforme
demonstrado no Quadro 2, a classificação inicial baseia-se em dados
clínicos como idade e sexo, história clínica (principalmente, em relação
a manifestações vasculares, sintomas de diabetes), pressão arterial,
circunferência abdominal, peso e altura (índice de massa corporal), e um
exame clínico focalizado em manifestações de aterosclerose.
Indivíduos
mais jovens (homens com menos de 45 anos e mulheres com menos de 55
anos), sem manifestação de doença ou sintomas e sem nenhum dos fatores
intermediários descritos no Quadro 2 são caracterizados como sendo de
BAIXO RISCO (Figura 1). Estes indivíduos não se beneficiam de exames
complementares, entretanto, devem ser encorajados a manterem um perfil
de vida saudável.
Homens
com idade superior a 45 anos e mulheres com mais de 55 anos requerem
exames laboratoriais para estimar mais precisamente o risco
cardiovascular. Indivíduos mais jovens que já apresentam um ou mais
fatores de risco devem passar para a avaliação clínico-laboratorial
subseqüente. Pacientes identificados nessa avaliação clínica como de
alto risco também devem ser avaliados do ponto de vista laboratorial
para orientação terapêutica, embora já sejam candidatos a intervenções
de alta intensidade ou mais agressivas, conforme descrito adiante.
Quadro 2. Avaliação clínica: Achados no exame clínico indicativos de alto risco ou da necessidade de exames laboratoriais
Indicadores de alto risco
|
Infarto do miocárdio prévio
|
Acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório prévio
|
Doença aneurismática de aorta
|
Doença vascular periférica
|
Insuficiência cardíaca congestiva de etiologia isquêmica
|
Angina de peito
|
Doença renal crônica
|
Indicadores intermediários de risco
|
Idade > 45 anos homens, > 55 anos mulheres
|
Manifestações de aterosclerose:
Sopros arteriais carotídeos
Diminuição ou ausência de pulsos periféricos
|
História
familiar de infarto agudo do miocárdio, morte súbita ou acidente
vascular cerebral em familiares de 1º grau ocorrido antes dos 50 anos
|
Diagnóstico prévio de diabete melito, tolerância à glicose diminuída, glicemia de jejum alterada, diabete gestacional.
|
Diagnóstico prévio de dislipidemia
|
Diagnóstico prévio de síndrome do ovário policístico
|
Tabagismo
|
Obesidade (IMC > 30 kg/m2) ou obesidade central (cintura medida na crista ilíaca: > 88 cm em mulheres; > 102 cm em homens)
|
Hipertensão (> 140/90 mmHg) ou história de pré-eclâmpsia
|
Historia de doença renal na família (para risco de insuficiência renal)
|
Figura 1. Fluxograma de classificação de risco cardiovascular.
AVALIAÇÃO CLÍNICO-LABORATORIAL
O
risco cardiovascular de pacientes com os fatores clínicos no grupo
intermediário é bastante heterogêneo. Para estimar mais precisamente
esse risco pode-se usar escores de predição. Infelizmente, até o momento
nenhum dos instrumentos disponíveis para a estratificação de risco foi
desenvolvido ou adaptado para o contexto brasileiro. Embora não exista
consenso no escore a ser utilizado para estimativa de risco global,
recomenda-se aplicar o modelo de Framingham, utilizado no Manual de
Capacitação dos Profissionais de Saúde da Rede Básica, revisto em 2005.
A
partir deste instrumento, os indivíduos são classificados em risco de
desenvolver um evento cardiovascular maior (ECV), definido por infarto
do miocárdio ou morte por causa cardiovascular, conforme Quadro 3.
Quadro 3. Classificação de risco global, segundo Escore de Framingham.
Categoria
|
Evento cardiovascular maior (ECV)
|
Baixo
|
<10%/ 10 anos
|
Moderado
|
10 a 20%/ 10 anos
|
Alto
|
>20%/ 10 anos
|
Essa
determinação de risco exige a obtenção de pelo menos 2 exames
complementares: glicemia de jejum e colesterol total. A determinação do
perfil lipídico completo, com dosagem de triglicerídeos, HDL-C e
estimativa de LDL-C[1]
torna a predição um pouco mais precisa para a maioria dos pacientes.
Havendo disponibilidade desses exames, em pacientes com fatores que
sugerem risco mais elevado é recomendado o perfil completo, embora o
risco possa ser estimado de modo adequado sem estes dados.
Para
pacientes com HAS ou DM, solicita-se ainda creatinina, exame de urina
tipo I e eletrocardiograma (ver Manual de Hipertensão Arterial e Diabete
Melito para SUS). Naqueles com diabete ainda deve ser solicitado teste
Hemoglobina glicada (A1c) e microalbuminúria, se ausência de proteinúria
no exame de urina. A presença de qualquer uma das condições abaixo
também indica alto risco:
• nefropatia
(proteinúria > 300 mg/dia ou 200 mg proteína/g Cr urinária ou Cr
> 1,5 mg/dl para homens e 1,3 mg/dl para mulheres OU albuminúria >
30 mg/24 horas ou 30 mg/gr Cr urinária)
• hipertrofia de ventrículo esquerdo ao eletrocardiograma ou ecocardiograma
Em
pacientes com glicemia de jejum > 100 mg/dL e < 126 mg/dL, com
risco calculado pelo escore de Framingham moderado (entre 10 e 20% em 10
anos), recomenda-se rastreamento de diabete por teste de tolerância à
glicose (TTG 75 gr). Nestes casos, a identificação de DM muda a
classificação para grupo de alto risco. É importante ressaltar que
embora a maioria dos pacientes com diabete se enquadre na categoria de
alto risco, nem todos são assim classificados. A avaliação e manejo
destes casos está detalhada nos Manuais específicos.
ESCORES DE RISCO GLOBAL
As
principais variáveis relacionadas com risco são: pressão arterial
sistólica, tabagismo, colesterol total, HDL-C, LDL-C, intolerância a
glicose, índice de massa corporal e idade. Na sua maioria ou em
combinação elas são incorporadas em escores preditivos globais, como o
Escore de Risco de Framingham.
O
cálculo do Escore de Framingham está descrito nas Figuras 2 e 3 para
homens e mulheres, respectivamente. Inicialmente são coletadas
informações sobre idade, LDL-C, HDLC, pressão arterial, diabete e
tabagismo [ETAPA 1]. A partir da soma dos pontos de cada fator [ETAPA 2]
é estimado o risco cardiovascular em 10 anos [ETAPA 3].
Figura 2. Escore de Framingham Revisado para Homens
Figura 3. Escore de Framingham Revisado para Mulheres
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Reproduzido de:
PREVENÇÃO CLÍNICA DE DOENÇA CARDIOVASCULAR, CEREBROVASCULAR E RENAL CRÔNICA – Cadernos de Atenção Básica n.º 14 [Link Livre para o Documento Original]
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica
Série A. Normas e Manuais Técnicos
BRASÍLIA / DF – 2006
[1] Fórmula de Friedwald para estimativa de LDL-colesterol [válida para níveis de triglicerídeos < 400 mg/dL] LDL = colesterol total - (HDL + triglicerídeos/5).
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